O rácio de liquidez imediata é um indicador que mede a capacidade de uma empresa fazer face às despesas a curto prazo, sem contar com o inventário. Ou seja, o dinheiro a que pode facilmente recorrer para cumprir os seus compromissos financeiros imediatos.
Para empresários em nome individual (ENI) e pequenos negócios, é ainda mais importante ter dados atualizados sobre o índice de liquidez. Desta forma evita problemas de tesouraria e atrasos nos pagamentos a funcionários e fornecedores.
O que é liquidez imediata
A liquidez imediata é um indicador que, mesmo sem saber, todos usamos na gestão financeira a nível pessoal. É, no fundo, a resposta à pergunta: tenho como pagar as despesas mais urgentes, recorrendo apenas ao dinheiro disponível a qualquer momento?
Um dado importante no cálculo da liquidez imediata é a facilidade com que o ativo pode ser convertido em dinheiro.
Por isso, são tidos em conta os montantes em saldos bancários (que podem ser levantados a qualquer momento), mas não imóveis ou investimentos não mobilizáveis. Além disso, este tipo de ativos pode desvalorizar. Isto é, se tiver urgência em obter liquidez, pode vender abaixo do valor de mercado ou do valor que esse ativo poderia vir a ter a médio e longo prazo.
Outro aspeto importante quando se fala no índice de liquidez das empresas é que este não tem em conta os stocks. Ou seja, para o cálculo não é tido em conta o inventário.
Assim, uma boa liquidez obtém-se quando a maior parte dos ativos é facilmente convertível em dinheiro, sem que exista perda de valor.
Como calcular o rácio de liquidez imediata
Para calcular a liquidez imediata da empresa são tidos em conta três componentes:
- Ativos correntes: como a caixa, contas a receber e outros que, a curto prazo, podem ser transformados em dinheiro;
- Inventários: vão ser subtraídos aos ativos correntes;
- Passivos Correntes: são as obrigações a cumprir a curto prazo, como arrendamentos, salários, prestações de empréstimo, entre outras.
A fórmula usada para o cálculo do índice de liquidez imediata é:
(Ativos Correntes – Inventários) / Passivos Correntes
Exemplo do cálculo de liquidez imediata
Vejamos um exemplo prático. A empresa tem 50.000 euros em ativos correntes (dinheiro em caixa e depósitos bancários) e 10.000 euros de artigos em stock. A curto prazo tem 25.000 euros de contas a pagar.
Assim, aos ativos vamos subtrair os stocks (50.000 - 10.000) e obtemos ativos no valor de 40.000. A seguir dividimos os 40.000 pelos passivos (25.000) e obtemos um índice de 1.6.
Isto significa que a empresa tem 1,6 vezes mais ativos líquidos (excluindo stocks) do que obrigações a curto prazo.
O que é uma liquidez positiva?
Geralmente, considera-se que o índice de liquidez é positivo quando ultrapassa 1. Ou seja, os ativos que a empresa tem naquele momento são suficientes para cumprir os compromissos financeiros de curto prazo.
Se o índice estiver acima de 1, como no exemplo acima, por cada euro em dívida há ativos de valor superior para cobrir as suas obrigações mais urgentes. Assim, geralmente considera-se que:
- Rácio superior a 1: a empresa tem ativos líquidos suficientes para as obrigações de curto prazo;
- Rácio = 1: há equivalência entre ativos líquidos e passivos de curto prazo;
- Rácio inferior a 1: podem surgir dificuldades no cumprimento de obrigações.
No entanto, algumas empresas podem ter um rácio mais baixo e gozar de boa saúde financeira. Isto porque, em vez de aplicarem o dinheiro em depósitos bancários (que têm geralmente baixa rendibilidade), investem noutro tipo de produtos mais rentáveis ou usam-no para amortizar empréstimos.
Qual importância da liquidez financeira para as pequenas empresas?
O índice de liquidez imediata mostra a saúde financeira de uma empresa. Por isso, é especialmente importante para empresários em nome individual e pequenas empresas, casos em que os orçamentos são mais pequenos. Ou seja, há menos margem para desvios e para fazer face a qualquer imprevisto.
Além disso, negócios de menor dimensão podem ter mais dificuldades no acesso ao crédito, o que complica a possibilidade de financiamento para responder a despesas mais urgentes. "As empresas de menor dimensão, além de terem maiores dificuldades no acesso ao crédito, atribuem um maior valor à opção de deterem ativos com liquidez imediata", indicava um estudo do Banco de Portugal, publicado em 2014.
Se o indicador de liquidez for baixo, a empresa pode, a curto prazo, deixar de ter como pagar a fornecedores e funcionários, começando também a falhar os pagamentos ao Estado (impostos e contribuições para a Segurança Social).
Por outro lado, a importância da liquidez imediata para as pequenas empresas pode traduzir-se na liberdade que esta "folga" traz para que possam traçar estratégias de crescimento ou usar os recursos disponíveis para aproveitar oportunidades de investimento em tecnologia, equipamentos ou recursos humanos.
No entanto, a situação financeira da empresa deve ser avaliada em conjunto com outros indicadores financeiros, porque há outros fatores a considerar. Além dos valores "parados" em investimentos ou em stock, há também que ter em conta, por exemplo, se é um negócio recente, em que o ponto de equilíbrio ainda não foi atingido.
Como melhorar a liquidez financeira do seu negócio
Aumentar a liquidez da empresa significa ter mais dinheiro disponível e, consequentemente, mais tranquilidade para que se possa concentrar nos pontos mais importantes da gestão. Conheça algumas dicas para melhorar a liquidez do seu negócio.
Controlar a gestão de caixa
A liquidez imediata pode ser obtida através de uma gestão cuidadosa e proativa da tesouraria.
Nesse sentido, um dos pontos mais importantes é registar todas as despesas, por mais pequenas que sejam. Desta forma, acaba com os chamados "gastos fantasma", mas também vai perceber melhor quanto gasta todos os dias, semanas ou meses.
Além desta gestão controlada, é importante analisar dados, como o volume de vendas, despesas, contas a receber, entre outros. Desta forma consegue, por um lado, perceber melhor a real situação financeira da empresa e, por outro, traçar cenários em termos de necessidade de vendas futuras ou eventuais problemas com cobranças.
Separar as contas profissionais e pessoais
Esta é uma situação que pode afetar sobretudo empresários em nome individual, que nem sempre têm uma conta bancária apenas para o seu negócio.
No entanto, há muitas empresas de pequena dimensão, em que o proprietário acaba por usar os seus meios para financiar a empresa ou recorrer a cartões e contas da empresa para pagar despesas pessoais urgentes.
Quando as contas não estão separadas, além de problemas em termos de contabilidade, é muito mais difícil perceber a situação financeira (pessoal e da empresa) e avaliar a capacidade para cumprir as suas obrigações mais urgentes.
Ter um fundo de emergência
Este é o tipo de conselho que tanto se aplica às finanças pessoais como às de uma empresa, seja qual for a sua dimensão. É importante ter algum dinheiro guardado para responder a imprevistos.
Durante a pandemia, o fundo de emergência terá ajudado muitas empresas a manterem-se em funcionamento enquanto não recebiam apoios (ou quando não tinham direito a eles).
Esta reserva de liquidez deve ser suficiente para, pelo menos, três meses de despesas.
Informar-se sobre eventuais apoios e benefícios fiscais
As empresas podem, por falta de informação, estar a perder dinheiro ou a oportunidade de ter de apoios e benefícios fiscais que ajudem a aliviar a tesouraria e a aumentar a liquidez.
Dos apoios à contratação de desempregados, passando pelos incentivos ao empreendedorismo, redução ou isenção de contribuições ou do pagamento de impostos, existem várias formas de reduzir despesas ou receber investimento.
As páginas online do Governo, do IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação ou do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) divulgam alguns destes apoios. Informe-se também junto de autarquias ou associações empresariais e setoriais.
Automatizar tarefas
A automatização de tarefas como a emissão de faturas permite poupar tempo e libertar recursos humanos, mas também ajuda a melhorar a liquidez.
Ao utilizar um programa de faturação online reduz a possibilidade de erro e facilita todo o processo e emissão de faturas e do respetivo envio para os seus clientes. Desta forma, evita esquecimentos ou atrasos que podem traduzir-se em maior dificuldade nas cobranças e em dificuldades de tesouraria.
A utilização de um software certificado pela Autoridade Tributária (AT) garante também o envio dos ficheiros SAFT nos moldes e prazos obrigatórios por lei. O que, por sua vez, evita coimas.
Os relatórios emitidos por estes programas constituem uma ferramenta importante para avaliar a saúde financeira da sua empresa, bem como a necessidade de fazer ajustes ou mudar de estratégia.